Aventura - Para Sobreviver

Após algum tempo na carruagem, o homem que eu havia pago para me levar até a cidade por algum motivo deixou uma garota entrar sem custo, um tanto incomodada com isso fechei a cara pela maioria da viagem, por que eu devia pagar e aquela elfazinha não?!

Deu mais um tempo, e mais, e mais, e nada acontecia, nunca chegávamos, e eu já estava de saco cheio daquilo, ansiosa para qualquer coisa, finalmente algo quebrava o silêncio, o rapaz encapuzado perguntava ao guia, que ignorava a questão rindo.

— Ei, por que isso tá demorando tanto? Diferente dela, eu te paguei pra isso, posso cobrar o quanto quiser. — Disparei com um tom incomodado enquanto me levantava atrás na carruagem, dando alguns passos em direção mais próxima do piloto, com objetivo de enxergar não só seu rosto, mas onde estávamos indo.

Entre a neblina não conseguia pegar muito do ambiente, não sabia muito do mundo fora de minha aldeia, dado que eu simplesmente teria que ter fé no fato de estarmos realmente rumando para a capital. A Elfa não parecia se importar comigo, diferente da maioria dos elfos que já havia interagido — Sendo essa maioria uma quantidade muito pequena — Demonstravam certo desprezo por mim, como se fosse inferior.

—Tsc. Devia ter mesmo... — Murmurei em resposta para o condutor, guardando minha opinião, e então respondi a elfa; — Ysmiria Zaela, e você do capuz? — Lançava a indagação direta enquanto me sentava novamente, sem muitas opções exceto esperar.

— Qual o objetivo de vocês nessa viagem? — Diria por fim, após a resposta, em busca de continuar alguma interação para passar o tempo.

O rapaz ainda se mantinha em silêncio, parte de mim desejava lhe dar um chute dado o estresse acumulado da situação, a incrível demora, o homem que conduzia a carruagem querendo fazer gracinhas e agora isto, mas deixei passar, não queria ser expulsa da carruagem num lugar que sequer sabia onde era.

— Goblins, huh? Não acho que seja um grande problema. — Comentava fazendo uma piada, enquanto levava a mão a cintura, foi ai que percebi, havia esquecido minha arma em casa, levei a mão ao rosto enquanto deixava um suspiro escapar, não tinha mais volta.

— Oh, então você está indo para a guilda também? Fama e dinheiro. — Respondia para a elfa, num tom um pouco mais baixo do que antes, evitando chamar atenção, mesmo que seria indiferente dado que a carroça fariam mais barulho que nossa fala. — Mas como assim "vocês gastavam tanto"? — Na comunidade Orc em que eu vivia, o financeiro era tão igual quanto qualquer outro lugar, no máximo trocas ocorriam entre poções, couros e outros materiais quando com pouca movimentação de estrangeiros.

A história da elfa era apagada no momento que o condutor apontava em direção de dois goblins, deixei um suspiro de leve escapar enquanto me aquietava observando o resto do cenário.



Me aproximei da garota, sentando a seu lado para poder continuar a conversa num tom bem baixo. — Eu posso te ajudar a chegar até lá, se lhe interessou. Imagino que cavaleiros e aventureiros conheçam muito do mundo em suas viagens. — Diria num sussurro, ela realmente parecia uma simples e bobinha garota perdida, não havia motivos para não ser amigável.

Um certo tempo se passava na carroça, havíamos saído da floresta e começávamos o caminho pela região montanhosa avistada a longe, a névoa ia ficando cada vez mai densa durante a viagem. — Hah, considere cortesia, na próxima discutimos o preço. — Responderia de maneira bem humorada, a carroça algumas vezes parecia sair da trilha, como se fosse desabar no abismo, porém se mantinha firme e forte.

Algo me chamou a atenção, o homem começava a murmurar algo numa língua antiga, parecia orc... mas não era. Uma flecha atingia próxima da elfa, e o homem instruída onde havia algumas armas, todavia minha atenção se mantinha naquele homem, havia agido suspeito demais para simplesmente ignorar, desci a mão mantendo os olhos atentos nele, pegando a espada de baixo do banco e segurando com cuidado na mão direita, ao me erguer fitei o horizonte, como se fosse pular para fora da carroça, e então virei a arma em sua direção.

— Mísa, é isso? Retire o capuz dele. — Se nada anormal fosse apresentado a isso, acetaria uma coronhada na lateral de sua cabeça, com intuito de o desmaiar, contudo se sua face se revelasse como um Goblin shaman ou algo que evidenciasse seu perigo, sendo nos olhos, marcas ou qualquer coisa, simplesmente cravaria a lâmina nele.

Caso tentasse me desarmar enquanto apontava a arma contra si, não lutaria, pelo contrário, o ajudaria a empurrar a arma para longe, visando a fazer voar fora de alcance e mudando o ataque de uma arma para físico, com uma joelhada direta em seu rosto me atiraria acima de si, o golpeando diversas vezes.

Porém no caso de apenas o acertar para desmaiar, após isso esperaria a elfa se armar, chamando-a para me auxiliar. — Nós estamos em desvantagem aqui, não enxergo nada deles, e eles já estão a postos... tem alguma magia élfica para nos salvar? — Questionaria observando a neblina enquanto ainda dentro da carroça, cuidadosa para não ser pega por um disparo desprevenida, deixando a espada a minha frente em horizontal, e caso algo viesse por reflexo moveria a espada, almejando bloquear ou mudar o rumo do disparo.

A lâmina se partia no ar, como mágica e voava em pedaços até meu tórax, similar a pedras batendo com força em meu corpo causou uma contorção de dor no meu rosto, os goblins então chegavam e eu me via indecisa perante quem atacar, agora era mais que claro que aquele homem era um dos culpados. Ao menos, de algo.

— Ah, merda! — Exclamei, sentindo a carruagem derrapar, conseguia manter meu equilíbrio com facilidade graças a minha boa coordenação, rapidamente me agachei e busquei outra espada, o Goblin que avançava contra a pequena elfa era meu maior problema no momento, visto que espadas não funcionavam contra o encapuzado, só agiria contra ele quando finalmente revelasse seus objetivos.

Após pegar a arma, percebi que o motorista também enfrentava problemas, e caso ele fosse abatido, estaríamos presas numa área de Goblins sem como fugir, toquei de leve com o indicador no pescoço da elfa, implicando minha maldição contra a mesma, enquanto isso avancei para a zona da frente, em auxílio ao condutor, almejaria com a espada bater lateralmente no corpo do Goblin, em sua perna, aqueles pequenos desgraçados não eram tão fortes, mas sua agilidade os faziam um perigo real, afetando tal seria a chave para garantir a vitória do condutor.

Considerações:

Após o sucesso em atingir o goblin na perna, o condutor o finalizava, olhando para trás a elfa cumpria seu papel com exímia habilidade, sem me acarretar em danos compartilhados, agora contudo ainda restava aquele maldito encapuzado.

Flechas atingiam a carroça, a madeira conseguia deter elas, mas só em caso erguia o braço, usando a espada como auxílio para me defender de alguma que passasse o teto. — Como diabos você quebrou a minha espada sem se mover? Retire essa merda de capuz ou eu irei arranca-lo eu mesma! — Exclamei para o maldito que ria sentado daquilo.

Numa cena extremamente perturbadora, o homem parecia enforcar algo no ar, porém eu gravava bem sua frase a respeito de "Poder dos Dez", quem eram os Dez? Um estralo me distraiu, e no momento em que voltei minha atenção ao homem, indecisa de como proceder no ataque, a carroça começou a deslizar e entrou numa queda livre.

Tentaria sair dela antes caso fosse possível, mas nem tudo dá certo, a pressão me impossibilitou de conseguir e repentinamente tudo ficou escuro. No próximo momento, abrindo os olhos com a cara na terra, sentia o gosto seco de ter apagado por algum tempo, o ambiente novo rapidamente era assimilado por meus olhos, me ergui batendo as mãos na roupa, tirando a sujeira e vendo se havia algum dano, peguei a espada e olhei aos lados, buscando o homem encapuzado, sem sucesso fui ao auxílio da Elfa.

— Ei, você está bem? — Perguntava enquanto a auxiliava a se erguer, caso já não estivesse em pé. Teríamos que dar um jeito de sair de lá, porém antes de tudo, buscaria nos escombros qualquer coisa útil; Comida, dinheiro, roupas, poções, livros, armas, armaduras e etc.

Uma busca em vão entre os destroços não me deixavam com mais nada que sujeira nas mãos, no fim era apenas a espada que havia sobrevivido de útil naquela queda, dando de ombros voltei para perto da Elfa, respondendo-a — Se morremos, o céu é um porre. Estamos aqui, e no momento precisamos sair daqui. — Enquanto respondia brincando uma voz chamava, ao longe uma luz cintilante pairando, uma voz não, duas ao mesmo tempo, pareciam de alguém agradável, confiante. Mas dada toda situação, estranhava um pouco. — Não temos muita opção, mas vamos com cuidado... — Dizia iniciando a caminhada em direção ao caminho, que coincidia com a voz, arma em mãos, pronta para qualquer coisa.

Após trilhar o curto caminho em direção a luz, era possível ver um imenso rosto, prendi a respiração para não gritar, segurando a espada mais firme ainda sem me mover. "Dá pra cortar um espirito assim? Não né? A gente realmente morreu? Não né?"

A criatura então falava, dizendo que deveríamos sair logo de lá, e após isso desaparecia, indo para outro ponto. — Você acha que ela... ele... isso está falando a verdade? Ou é uma armadilha pra perdemos nossos corpos? Ou é só uma armadilha pra nos matar? Aaaaaaah! — Extremamente confusa em como prosseguir, deixaria a Elfa decidir nosso rumo, e simplesmente seguiria suas instruções e passos.