História - As memorias de Mo-Du

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Hayleigh havia recebido a convocação, e não tardou para se arrumar e comparecer ao tal lugar, não havia muitas novidades ou coisas para fazer onde morava exceto a mesmice que já havia lhe entediado, mesmo que fosse estórias de bêbado, seriam algo a se fazer.

A descrição de onde ficava a casa era um tanto rasa, perto do rio, mas não foi difícil costear o mesmo buscando uma residência de alguém que não conhecia, e quando finalmente a encontrou, chegou próximo da porta, batendo nela duas vezes e esperando a resposta e desenrolar do cenário.

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Já havia alguns jovens e garotas envolta da propriedade, que cativaram os olhos do protagonista, principalmente as moças — Se não exclusivamente — Porém não estava lá por isso, após bater a porta foi recebido, e os demais foram convocados com ele.

Após adentrar, tomou um lugar para sentar, absorvendo a atmosfera e ambiente do local, o cheiro da casa e o clima da mesma, fitou por alguns instantes as pessoas lá presentes mais chamativas, especialmente o anfitrião, e então esperou calmamente até o desenrolar das respostas para sua vez.

— Hayleigh, podem me chamar de "Hey", meu sonho é conhecer o mundo com meus próprios olhos. — Após seguir as instruções, não havia muito o que fazer, deixava-se atento para o desenrolar.

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As instruções do pequeno homem eram claras e sucintas, em geral era conhecimento de todos aquilo que dizia, mas alguns pedaços pequenos de informação auxiliavam, dando razões e motivos para algo que simplesmente faziam sem saber. Todos sabem que esfregar duas pauzinhos faz fogo, mas compreender o processo da fricção por trás lhe abre novas oportunidades de aplicar os conhecimentos em áreas não exploradas.

Durante toda a oratória porém, nada chamou muito a atenção de Hayleigh, no fim das contas era apenas o primeiro dia, entretanto com o canto do olho o protagonista percebeu algo incomum, não era dos mais rápidos para esse tipo de coisa, mas certamente uma jovem estava o cuidando. "Eu conheço ela?" pensou consigo enquanto tentava desvendar o motivo da jovem o observar, não iria iniciar diálogo, não ainda, apenas a ignorava, tentando descobrir suas reais intenções.

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Uma semana se passava, e Shalgaz sentia-se um tanto entediado, nada de surpreendente ocorria de forma que o mais atrativo e curioso era a garota de cabelos negros. Finalmente algo diferente, era dado um teste, oral aparentemente, sobre as técnicas aprendidas e como executar.

Hayleigh pôs-se a frente, sendo que o primeiro a falar seria o mais fácil, dado que respostas repetidas não teriam grande valor; — Nas estações quentes, é melhor regar em poucas quantidades regularmente, sendo na manhã e tarde, porém no inverno uma rega de maior quantidade poupa tempo e auxilia o solo. Além disso, usar uma solução de alho com água auxilia a afastar pragas, e deixa o cheiro menos apetitoso para alguns animais selvagens. Cuidar os limites das cercas e checar por pegadas, dado que qualquer invasor faria uma escolta previamente antes de entrar e saquear, facilitando a identificação de um possível ataque.

Hayleigh então parava após três fatos, um unicamente agricultural, um misto e um de combate. Dada as respostas, ele se sentava, fitando diretamente a garota que o cuidava as vezes, uma semana se passou e não conseguia lembrar absolutamente nada da mesma, então só lhe restava a abordar após o curso.

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Após o teste o anão parecia satisfeito com alguns mais que outros, e de fato era possível evidenciar que alguns haviam aprendido e se desenvolvido mais que os outros, eu me sentia nesse meio melhor, mas nunca se sabe quando se está enganado.

Teríamos algo prático, finalmente, ao ar livre deveríamos colher arroz, era bem simples, um remaria enquanto o outro pegava o arroz e o depositava dentro do veículo, por fim, curiosidade do destino, minha dupla era a jovem de cabelos negros.

— Imagino que sim. Seu nome é Lucy, certo? Acho que é mais tranquilo a parte de remar, mas fica a sua escolha qual prefere fazer. — Seguiria até a nossa canoa, ouvindo a sua resposta e então complementando — A maioria da redondeza que conheço de vista, mas não consigo lembrar de você. Mora por onde? — Diria, puxando conversa para ganhar tempo até a canoa.

Chegado no local, subiria e auxiliaria ela a subir na canoa, para então iniciarmos a tarefa, deixaria ela escolher qual preferia fazer, e então cuidaria do demais, sendo remando ou juntando o arroz dentro da canoa. — Fazer isso em dia de chuva deve ser chato, huh?

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A tarefa se passava com tranquilidade, admirava os traços faciais da jovem a minha frente enquanto estava distraída colhendo os grãos, a luz do sol refletida em sua clara pele lhe dava uma beleza incontestável, pela proximidade que estávamos era a primeira vez que podia absorver tanto da mesma.

Até mesmo seu cheiro era agradável, mesmo que fraco e distante, o cenário por fim era calmo e belo, completando a cena como uma pintura. — Oh, então é por isso. Neste rio? Não haha. Nasci e fui criado aqui, e você? — Respondia enquanto mantinha o lento ritmo, após sua resposta continuaria a conversa. — Então, tem algum hobby? Costuma fazer o que fora do curso? — Indagava despretensiosamente, caso a mesma perguntasse para mim, responderia de prontidão — Hmm, eu gosto de montar coisas. Ou tenta arrumar elas, fora daqui costumo ajudar mais pais a cuidar a fazenda, além disso as vezes vadio com uns amigos conversando, nada de mais.

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Escrever, interessante, uma garota culta. Não eram todos que aprendiam a escrever, ainda mais no interior, mas também ela não era daqui, então talvez isso explicasse um pouco, e também suas motivações de frequentar algo tão simplório.

Ela então se aproximou, oferecendo para entrarmos na água e ir mais ao fundo, contudo eu entendi a pergunta um pouco errada naquela vez... — Desde que eu não caia da canoa, não importa a profundidade, certo? Mas sim, sei nadar. E você é de onde então, Lucy? — Repetia seu nome, criando uma sensação de proximidade e intimidade, repetir o nome da pessoa era uma ótima técnica para chamar sua atenção, demonstrar interesse e ao mesmo tempo, ser sútil o suficiente para não deixar transparecer.

De toda forma, esticava a mão na água para sentir sua temperatura, enquanto olhava aos céus para ver se o clima estava propenso para mergulhar — A não ser que você esteja dizendo literalmente nadar, não vejo como isso nos ajudaria a colher o arroz, e ao mesmo tempo não vejo motivos para recusar o convite. — Dizia de modo meio enigmático que estava mais interessado nela do que a tarefa no momento.

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Três dias se passavam na mesma rotina e praticamente todo arroz da região havia sido coletado, parcialmente cogitava se aquele anão não estava apenas se aproveitando de mão de obra barata — Ou mais precisamente, de graça — Mas duas coisas me faziam continuar; A primeira, ele realmente possuía conhecimentos, e até onde dizia, esses grãos não eram unicamente para ele, e sim a comunidade. E dois, Lucy, havia sido uma ótima descoberta, e a jovem além de bonita era interessante, então desde que ainda estivesse por lá, teria motivos pra ir.

Nossa próxima atividade foi envolvendo vacas, algo simples que eu já fazia na minha casa, então excedi as expectativas naquele âmbito, tentei auxiliar Lucy com conselhos vindo da experiência, além de quê me mantinha perto dela, como havíamos formado a dupla, a maioria das pessoas agora andavam em grupos de no mínimo 2 integrantes, e eu não planejava fazer diferente.

Mais um dia, mais um ensinamento, desta vez era sobre cavalos, não era grande dificuldade, desde que possuísse empatia e calma o animal não perdia o controle, acariciar o pescoço era um bom método de se aproximar deles, a comida era simplesmente ser jogada no "pote" e escovar era algo simples, qualquer carrapato ou parasita encontrado era facilmente identificado. — Já montou num cavalo? — Perguntei me aproximando de Lucy, enquanto observava um deles — Eu já até cavalguei uma vez, mas só isso. Gostaria de aprender de verdade, parece divertido.

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Numa surpreendente demonstração de habilidade, Lucy simplesmente subiu e cavalgou para longe com o animal, virei a cabeça largando um suspiro e dando de ombros. — É, acho que responde... — Comentei a esmo enquanto ela criava uma distância, o instrutor então se aproximava, com uma súbita pergunta um tanto íntima.

De primeiro momento virei para ele, com um sorriso no rosto de nervosismo. "Apaixonado? Nâo..." Pensei rapidamente comigo mesmo enquanto alguns segundos se passavam, tentando formular a frase certa; — Ela certamente é interessante, mas não sei se chega a isso. Eventualmente grupos iriam se formar, não é mesmo? — Respondi de maneira evasiva, de fato minha afirmação fazia sentido, não descartava o interesse que possuía nela, mas deixava o foco da conversa esperançosamente fugir de reais sentimentos e emoções, não sabia mais responder aquilo na verdade. Se eu gostaria de ter algo a mais com ela? Bem, sim... mas ainda era muito cedo para qualquer coisa, mal havíamos nos conhecido afinal de contas. — Por quê? — Questionei o anão de volta, curioso de seu interesse.

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Olhando em direção de onde o homem apontava, via o amontoado de futuro adubo acumulado, ergui a cabeça para cima soltando uma risada incrédula. — Ahh, eu vou cobrar isso. — Murmurei enquanto dava de ombros, aceitando o que deveria fazer, era mais fácil limpar a bosta do que correr atrás de um cavalo.

Usando uma pá acumulei ela toda em um balde, o qual deixei fora dos estábulos para posteriormente ser aproveitado, o cheiro honestamente não me afetava muito, na realidade eu não era dos mais aptos no sentido do olfato, contudo eu repetidamente cuspia no chão por asco enquanto realizando a tarefa.

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Durante a tarde enquanto estava próximo de minha casa repentinamente alguém me acertou pelas costas, não chegava a sentir dor, mas era incomodo, ao me virar não se tratava ninguém menos do que Lucy. — Como diabos você, ah, tanto faz. Fazer o quê? Estou entretido no momento, me faça uma oferta mais tentadora. — Dizia voltando a mexer num pedaço de madeira que eu tentava ajustar no tamanho certo para uma peça que estava planejando construir.

Na realidade eu estava há quase duas horas tentando arrumar o tamanho certo, e não conseguia, sinceramente já estava prestes a sair dali frustrado antes dela aparecer, mas meu objetivo era simplesmente encher o saco dela de volta.

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Após sua proposta, cogitei por alguns segundos para responder — Bem, não é como se estivéssemos roubando nada... mas, não sei, ainda é errado invadir a casa dele. Se fosse um local público fechado, como uma biblioteca... — Era um tanto contra a ideia inicial, mas a final me apetecia, fiquei em dúvida de como agir. No fim das contas, íamos lá diariamente, e desde que não quebrássemos ou roubássemos algo, não era muito diferente de um dia qualquer.

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A garota usava de seu charme tentando me induzir, mesmo que possuísse um ponto válido, ficava relutante de fazer isso. — Bem, nós temos a chave então sequer vamos bagunçar algo, e não lembro dele ter proibido de mexer nos livros... imagino que seja ok. — Dizia tentando criar desculpas para isso, ainda não gostava da ideia, mas decidia acompanhar a jovem, esperando-a abrir a porta para seguirmos.

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A garota tocava com suas mãos macias em mim, abrindo meu palmo e depositando a chave gélida na mesma, então começava a me empurrar, falando para ser gentil e ir na frente. — Ei, ei, não foi você que disse não venha com essa no primeiro dia que conversamos? — Falava arremessando a chave para cima, na direção dela — Você que teve a ideia, então guie. E entrar pela frente é melhor, já que temos a chave ninguém vai suspeitar, sempre estamos entrando na casa de qualquer maneira. — Dizia confiante, enquanto esperava sua reação.

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Soltava uma gargalhada misturada com "Pfft" ao ouvir sua resposta, e então a seguia. Adentrar o recinto era simples, e a estante com diversos livros parecia lhe chamar mesmo a atenção, cheguei atrás dela sorrateiramente e coloquei meu rosto atrás de sua cabeça, para falar em sua orelha alto e repentinamente — Vai admirar só? — E então passaria das costas dela para a estante, olhando o título dos livros que conseguisse compreender a linguagem, caso algum me apetecesse, afinal de contas provavelmente demoraríamos ali algum tempo antes de ir no lago.

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